Quando deixei de ser eu para virar nós.
Qualquer
um que lê o início desse texto acredita que estou falando de um casal, um
simples casal que se diz apaixonado, mas esse pequeno desabafo não é sobre o
amor que um dia acaba. Aqui estão os mais profundos sentimentos de quando
deixei de ser eu para ser nós, isso mesmo, nós dois, porque você já existia
antes mesmo de pensar em existir. Você, pequeno eu, já fazia parte dos meus
pensamentos diários há algum tempo, estava sempre se fazendo presente. Num dia
qualquer eu acordei e você estava lá pra me deixar inteiramente confusa. Eu
precisava de você, como a flor, que precisa de água pra se mostrar inteira e então
aos poucos você foi se tornando ideia concreta e aí finalmente eu me dei conta
de que você precisa sair dos meus sonhos.
Eu
que sempre fui tão egoísta, aprendi finalmente a dividir, primeiro eu dividi
com você os meus pensamentos, eu te contava tudo o que se passava na minha
cabeça, meus fracos e fortes, minhas alegrias e minhas tristezas. Depois eu
dividi com você o meu coração onde se encontravam meus demônios, meus medos e
minhas vontades, e então pouco a pouco você me transformou, eu já não sabia o
meu lugar, esse virou o seu também. Finalmente eu dividi com você a minha alma,
isso era tudo que fazia com quem eu fosse eu mesma no meio de bilhões de
pessoas, foi quando você se tornou real, nós éramos agora dois num mesmo corpo.
E
eu sofri, sim, eu chorei, meus medos voltaram, não via uma luz no fim do túnel mesmo
sabendo que essa era você. Como alguém que não pode nem cuidar de si própria iria
dar conta de suportar tudo isso? Eu me perguntava todos os dias e em todos eles
você me respondia que tudo ia ficar bem. Às vezes eu acordava chorando, às
vezes eu passava o dia inteiro chorando, mas por dentro, porque as pessoas
acreditam que esse é um momento maravilhoso apenas e que você tem que ser forte,
qualquer deslizada e pronto! Culpada.
Você
foi crescendo e então chegamos ao ponto em que o titulo desse texto faz um
pouco mais de sentido. As pessoas ao me verem já não perguntavam mais se eu
estava bem, tudo virou plural e que plural mais gostoso de responder. Nós estávamos
bem, apesar de todos os contratempos, tudo nos fazia um pouco maiores. Ainda
assim, a consciência não estava plena de que eu era você e você também era eu,
passei vinte anos da vida sendo uma só, como aprender em nove meses a ser dois?
Aprendi!
Às vezes me perguntam o que mudou em mim... Além de tudo? Vamos ver, tudo!! Não
da pra explicar em palavras, só aqueles que são capazes de sentir é que
entendem o que estou falando. E não tem essa de “só quem é mãe entende”,
entende quem tem coração, quem é capaz de perceber o milagre da vida, a delícia
de se sentir vivo apesar dos pesares e continuar em pé. Nós estamos aqui, eu e
meu pequeno grande amor estamos juntos e estaremos para o resto de nossas vidas
porque não é amor só agora, se me permitem citar Clarice:
“Não
me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de
ser.”
Ps:
E a saudade batendo forte desse meu barrigão!